terça-feira, 4 de dezembro de 2012

MEXICO EMPOSSA PEÑA NETO COMO SEU NOVO PRESIDENTE.




Corrupção em todas as camadas da sociedade, exposição à crise econômica mundial e níveis recordes de violência devido ao narcotráfico são alguns dos principais desafios para Enrique Peña Nieto, que tomou posse neste sábado como novo presidente do México.

O México enfrenta a maior onda de violência relativa ao tráfico de drogas em toda sua história. O governo de Felipe Calderón, que deixou o cargo, disse que foi preciso recorrer ao Exército para lidar com a escalada na criminalidade que começou em 2006.

No entanto, Calderón diz que o México ainda tem uma taxa de homicídios inferior a de outros países da região, como Brasil, Venezuela e Honduras.
Ainda assim, a brutalidade dos cartéis mexicanos vem chamando atenção internacional. Nos últimos meses, a imprensa local noticiou massacres, com dezenas de cadáveres mutilados, vítimas penduradas em pontes e cabeças degoladas deixadas em frente a prédios do governo.

Confira abaixo alguns dos principais desafios do novo governo mexicano que começa neste sábado.
Redes criminosas
Alguns grupos de criminosos evoluíram e se tornaram redes sofisticadas. O caso mais notório é o do Los Zetas. Originalmente o grupo foi formado por ex-militares de México e Guatemala. Hoje ele domina o noroeste do país.
Outro grupo que se destaca é o cartel Sinaloa, liderado por Joaquín "Chapo" Guzmán, o traficante mais procurado do mundo. O presidente mexicano terá que decidir se continua com a estratégia de usar ajuda militar no combate à violência, ou se buscará novas táticas.

A especialista em segurança Ana María Salazar acredita que negociar diretamente com cartéis não é uma alternativa viável.
Rede do narcotráfico que promove violência está cada
vez mais sofisticada (Foto: AFP/BBC)
"A força destas organizações torna isso impossível. 'Negociável' significa que a eventual ruptura de um acordo terá consequências. E isso significa que o governo terá que ser ainda mais violento contra os cartéis. A ideia de um pacto não agrada, e eu considero isso impossível", diz a especialista.
O novo presidente também terá que pressionar mais os Estados Unidos para reduzir a demanda por drogas e controlar melhor o tráfico de armas que tem o México como destino.
A luta contra o crime organizado é uma tarefa hercúlea, ainda mais devido à impunidade. Estima-se que 97% dos assassinatos relacionados ao narcotráfico seguem sem condenados.

Economia
Gerardo Esquivel, conselheiro do Banco Mundial e da OCDE, identifica três desafios fundamentais para a economia mexicana. "O primeiro é reestabelecer o crescimento econômico de forma sustentável e em um patamar maior. Depois é preciso combater a pobreza, onde os resultados foram muito fracos nos últimos anos; e o terceiro é gerar maiores oportunidades de emprego, particularmente entre os mais jovens."
Sergio Martin, economista-chefe do banco HSBC do México, diz que a previsão de taxa de crescimento mexicano para 2012 - de 3% a 4% - é "saudável", especialmente se comparada à Europa e Estados Unidos. Mas Esquivel acredita que esta taxa de crescimento oculta uma realidade econômica preocupante.
Mexicanos confiam cada vez menos na polícia e em outras instituições oficiais (Foto: Gettyimages/BBC)
"Se considerarmos que a economia caiu fortemente em 2009, que nossa recuperação gerou muito pouco emprego formal e que muitos postos criados têm salários inferiores à média, a perspectiva é um pouco mais crítica", disse o economista à BBC.

Outro tema espinhoso é a possível privatização da Pemex, a estatal mexicana do petróleo. A medida pode gerar bilhões de dólares para o governo mexicano, mesmo no caso de uma privatização parcial.
No entanto, a Constituição mexicana obriga que a Pemex seja controlada pelo poder público. Uma potencial alteração na Constituição envolve um trabalho pesado no Congresso mexicano.

Corrupção
O governo atual tentou introduzir medidas anticorrupção, inclusive com uma campanha de conscientização da população e com cortes em órgãos públicos. No entanto, os debates durante as eleições presidenciais revelaram que o estigma da corrupção persiste no país.
Os quatro principais candidatos à Presidência estiveram envolvidos, em algum grau, em acusações de possíveis casos de corrupção - de escândalos do passado à ligações com pessoas de reputação duvidosa.
"No pacto fiscal existente no México, governadores e prefeitos não precisam dar explicações sobre o dinheiro que recebem [do governo central]", afirma Eric Magar, cientista político do Instituto Tecnológico Autônomo da Cidade do México (ITAM).

Magar acredita que, para enfrentar a corrupção, é preciso examinar o papel e a autonomia das autoridades locais e estaduais. "Se supõe que os Estados devem justificar como se usa o dinheiro, mas há pouco que o Congresso pode fazer para verificar realmente o que vai para cada Estado. E isso dá margem para que se use os recursos como cada um quiser."

A guerra contra as drogas complicou ainda mais o tema, já que traficantes possuem dinheiro para comprar apoio de políticos. Cartéis de droga estão infiltrados na polícia e em órgãos de Justiça de diversos Estados. Muitos mexicanos têm pouca ou nenhuma confiança no sistema.

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