segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

GUSTAVO BELTRÃO JOVEM TALENTO DE JOÃO PINHEIRO COMEÇA FAZER SUCESSO EM TODO O BRASIL.




Uns o chamam de acordeom, para outros ele é a gaita e há até aqueles que o denominam de fole. Mas é com o nome de sanfona(1) que esse instrumento milenar se tornou popular, especialmente no interior do Brasil. A sua versatilidade em estar presente em praticamente todos os gêneros musicais, seja o erudito, pop ou tradicional, é a sua marca registrada. Tango, choro, forró, polca, valsa e agora, mais do que nunca, a sanfona recuperou o seu devido espaço na música sertaneja.

As duplas e cantores desse estilo musical resgataram o instrumento que, assim como a viola, sempre esteve ligado às raízes caipiras. Mas, com a explosão pop do sertanejo nos anos 1990, muitos músicos investiram na guitarra, baterias e afins. A boa e velha sanfona foi deixada de lado. “Os caipiras mesmo como o Trio Parada Dura, Tonico e Tinoco, sempre prestigiaram o clássico instrumento. A juventude acabou redescobrindo a sanfona com o forró universitário e agora com o sertanejo universitário. Ela bombou mesmo e voltou com tudo”, acredita o sanfoneiro Pedro Mattana, 28 anos, que toca com a dupla Zezé di Camargo & Luciano.

Paulinho Marques, 29 anos, professor e acordeonista, diz que o tecladista acabou ocupando o espaço do sanfoneiro no passado recente, e que, agora, é exatamente o contrário que está acontecendo. “O acordeom invadiu a música brasileira como um todo. Você praticamente nem vê mais tecladistas nas bandas que tocam com as duplas. Virou moda mesmo. Alguém começou a colocar a sanfona, e aí todos os artistas acompanharam”, conta ele que, apesar da pouca idade, é considerado já um mestre para a nova geração de sanfoneiros. “A procura para aprender esse instrumento nos últimos tempos tem sido muito grande. Tenho uma lista de espera de pelo menos 200 alunos”, ressalta.

Entretanto, o que faz da sanfona ser tão única e ter a capacidade de encantar tanta gente? O professor de tecnologia em música e acordeom da Escola de Música de Brasília, Eugênio Matos, acredita que a sanfona, ou acordeom, guarda uma expressividade e uma intensidade raras, além das várias possibilidades de sons. Por isso, ela mantém admiradores. “Nos anos 1980 e 1990, a música eletrônica, e todos os seus sintetizadores, produzindo uma infinidade de sons, abriu uma vasta possibilidade para os arranjadores e os músicos de estúdio. E isso acabou ofuscando um pouco o brilho de instrumentos tão ricos como o acordeom. Mas, aos poucos, os seguidores do eletrônico perceberam como o som produzido aqui é o mesmo do outro lado do mundo. Não tinha mais como variar e aí abriu uma brecha para que instrumentos como o acordeom, cheios de expressividade, intensidade, e, sobretudo, possibilidades, voltassem com carga total”, explica.

Sangue novo
Uma nova geração de sanfoneiros tem despontado Brasil afora para continuar encantando plateias assim como fizeram ou ainda fazem Dominguinhos, Mario Zan, Sivuca, Hermeto Pascoal, Oswaldinho do acordeom, entre outros. Com apenas 20 anos de idade, sendo seis dedicados à sanfona, Gustavo Beltrão é o sanfoneiro oficial da dupla Chico Rey & Paraná. Ele começou a tocar o instrumento meio que por acaso. Um tio esqueceu o acordeom de estimação na sua casa e foi ali que ele começou a fazer os primeiros acordes. Desde então, não parou mais. “Aquela época, 2004, coincidiu com a exibição da novela América, da Globo, que tratava desse universo rural. Acho que foi ali que tudo recomeçou. Hoje, uma dupla que não tem sanfona é até desvalorizada. O cachê é maior para quem tem sanfoneiro. Não consigo imaginar mais a música sertaneja sem ela”, defende.

Outro jovem músico, Jefferson Salgado, também de 20 anos, que já tocou ao lado de vários artistas, como a dupla Pedro Paulo & Matheus, acredita que o fato do forró ter tido um boom nos últimos anos, fez com que o brasileiro voltasse os olhos para a sanfona e, por isso, o instrumento está presente hoje em quase todos os ritmos. “Ela estava muito em baixa, mas acho que a influência de grandes nomes como Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeom, a sanfona foi valorizada novamente”, ressalta.

Para quem está na estrada há muito tempo, o retorno da sanfona é mais do que comemorado. Com 30 anos de dedicação, o goiano radicado em Brasília, João Batista Pereira da Rocha, 57 anos, ou simplesmente Keijim, apelido que ganhou após adquirir o bar de um chinês, comenta que nos últimos anos, a demanda por sanfoneiro tem sido intensa e que há até uma carência de bons profissionais no mercado. “A procura está grande mesmo. Não é qualquer um que pode tocar porque é um instrumento caro, difícil de aprender, que incomoda na hora de carregar e exige muita dedicação. Mas, para mim, é o instrumento mais completo que existe. É rico em ritmo, harmonia, tem tudo que o músico precisa. Tentaram esconder a sanfona durante um tempo, mas não teve jeito. Ela voltou, e pra ficar”, celebra.

1 - A origem
Há várias histórias sobre a origem do acordeom. Alguns defendem que ele surgiu na Europa, como instrumento de música erudita, mas a teoria mais forte é de que ele seria derivado de um instrumento chinês chamando “Cheng”, criado no ano 2.700 a.C. Era uma espécie de órgão portátil tocado pelo sopro da boca. Tinha a forma de uma ave, a Fênix. Porém, foi na Europa, por volta de 1820, que ele teria se tornado o acordeom como conhecemos hoje. 

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