quarta-feira, 13 de julho de 2011

REFORMA EDUCACIONAL JOÃO PINHEIRO-1906




Em menos de um mês após sua posse, João Pinheiro realiza uma ampla reforma do
ensino primário e do ensino normal, já com a preocupação de adaptar a realidade do ensino do
estado de Minas aos interesses de sua concepção de sociedade e de política. Dentre as
diversas modificações e propostas da reforma, levadas adiante, destacam-se: a maior
fiscalização do ensino através dos inspetores escolares; a introdução de componentes
curriculares ligados ao ensino da agricultura; melhorias na formação dos futuros professores;
criação de um espaço próprio para a atividade da instrução, agrupando todas as escolas antes
isoladas em um só prédio, os chamados “Grupos Escolares” ou Escolas Agrupadas.
Dentre desses pressupostos, a reforma proposta por João Pinheiro, Minas Gerais,
permitiu que houvesse um ensaio no sentido de promoção da escolarização, pois com a
reforma mineira de 1906, “a escola ganhou notável centralidade, sendo conformada, já nos
ordenamentos legais, como o lugar específico para uma educação específica – “o
desenvolvimento da educação popular sob o tríplice aspecto físico, intelectual e moral””.
O programa proposto pela Reforma João Pinheiro e a ser incorporada pelas escolas
mineiras incluía os estudos de “Leitura, Escrita, Língua Pátria, Aritmética, Geografia, História
do Brasil, Instrução Moral e Cívica, Geometria e Desenho, História Natural, Física e Higiene,
Trabalhos Manuais e Exercícios Físicos”. (FARIA FILHO e VAGO, 2000: 38) Com isso,
a educação primária em Minas Gerais experimentou, após a reforma
de ensino de 1906, um processo de racionalização que atingiu tanto a
definição, a divisão e o controle dos espaços e dos tempos escolares
quanto os processos e os métodos de ensino, impondo, com isso,
normas disciplinares sobre os professores e, notadamente, sobre os
(as) alunos (as). Essa racionalização não pretendia diminuir a
abrangência da educação, mas ao contrário visava dar conta de suas
tarefas cada vez mais amplas e complexas.
O novo padrão imposto através da expansão e consolidação dos Grupos Escolares
exigia uma organização baseada numa inédita divisão do trabalho pedagógico. Percebe-se a
presença de uma fiscalização permanente do ensino através da inspetoria, bem como a
execução de um programa de ensino legalmente estipulado.
O processo de modernização do ensino levado adiante pelo então Presidente do
Estado, João Pinheiro, não significou necessariamente a superação das péssimas condições de
ensino, que anteriormente vigoravam no contexto estadual. As condições de ensino eram
muito restritas e dependentes da conduta pessoal ou individual dos professores. Neste sentido,
Ler, escrever e contar eram as preocupações centrais do ensino nessas
escolas. Dos(as) professores(as) que nelas ensinavam eram exigidas,
como elementos fundamentais de sua competência, a capacidade de
ensinar e a idoneidade moral. Nesse contexto, o conhecimento
escolarizado era o conhecimento do(a) professor(a), que em muito
confundia-se com a própria cultura da população, da qual ele(a) era
oriundo(a) e participante. (FARIA FILHO e VAGO, 2000: 34)
A partir dessas colocações, o antigo modelo era considerado pernicioso para o
projeto de escolarização implantado no decorrer da República Velha em Minas, pois não
havia uma diretriz eficiente e universal que servisse de modelo para todas as escolas
existentes até então. Assim, tais escolas passam a ser duramente criticadas pelos intelectuais e
políticas republicanos pela sua inoperância e precariedade, pela
ignorância dos(as) professores(as) e, ainda, pela falta de controle do
Estado sobre elas, registra o autor. São paulatinamente representadas
como um estorvo a ser removido. (FARIA FILHO e VAGO, 2000:35)

Escolas isoladas continuavam a ser construídas, bem como um parte maciça da
população permanecia fora das escolas e, consequentemente, continuavam analfabetas. O
povo, em geral, ainda não via na escolarização uma possibilidade de ascensão social ou até
mesmo uma real necessidade para a sua integração no meio social.
As dificuldades encontradas no exercício do ensino eram inúmeras, obstruindo a
plena realização da educação escolar popular. Só porque houve a implantação do modelo dos
grupos escolares (através da Reforma João Pinheiro, em 1906), isso não significaria, por outro
lado, a superação completa das precárias condições de ensino. Assim,
Até então, os professores, em um exaustivo trabalho, ensinavam em
aulas heterogêneas, onde se reuniam crianças das quatro classes, com
óbvios inconvenientes para a aprendizagem e para esses próprios
mestres que teriam que redobrar esforços para manter em atividade
todos os alunos, sem poderem dispensar, ao mesmo tempo, a sua
atenção para com todas essas divisões. (MOURÃO, 1962: 93)
Mesmo com o fato de ocorrer uma defesa da modernização da escola, que atenda
aos interesses do Estado em oferecer uma formação básica e eficiente para a população,
preocupada em proporcionar uma profissionalização das crianças, denotava uma característica
singular do modelo liberal, voltado para a preparação de mão-de-obra especializada, pronta
para inseri-los na prática do trabalho.

Como todo processo de mudança, esse período de reformulação do ensino público
em Minas Gerais não de todo harmônico e consensual. A imposição do novo papel social da
educação escolar foi introjetado em meio a tensões, na relação com outros sujeitos sociais. A
adesão da população não se demonstrou imediata e, nem mesmo convicta imediatamente, pois
nem sempre as ações praticadas pelo Estado são acompanhadas simultaneamente pelas outras
instâncias da sociedade. Assim,num movimento que contou com a participação não apenas dos
profissionais ligados ao cotidiano escolar, mas do conjunto daqueles
implicados na produção e legitimação política e cultural de uma nova
cultura escolar em Minas Gerais nas primeiras décadas deste século, a
criança como sujeito sócio-histórico (como sujeito participante e
portador de uma cultura, de sensibilidades e valores próprios,
possuidor e continuador de uma tradição e/ou sujeito que deseja e
busca em razão não de uma agência de ensino, a escola, mas do
sentido de sua própria vida) passa a ser cada vez mais destituída de
sentido e qualidade, dando lugar e apenas um sujeito que conhece, ou
melhor, que aprende a conhecer. (FARIA FILHO e VAGO, 2000: 42)
Isso se dá na compreensão de como esse processo contribuiria na formação de um
universo de idéias, bem como de comportamentos, ou até mesmo na consecução de espaços
físicos, símbolos e instrumentos da formação de uma sociedade melhor estruturada e
reformulada, para atender às necessidades impostas pelo novo regime republicano.
Minas Gerais experimentou, através da Reforma João Pinheiro (1906), um
processo de busca da racionalização da educação escolar, preocupada em reformular diversos
aspectos do ensino, atingindo vários aspectos do mesmo: a concepção, a organização e o
domínio dos ambientes e da temporalidade escolar; além do mais, houve também uma
interferência no que se refere às concepções relativas ao currículo ministrado nas escolas, bem
como o método pedagógico adotado nas mesmas; conseqüentemente, houve também uma
preocupação com as normas disciplinares vigentes, sobre os professores, por um lado; e, por
outro, e com maior ênfase, sobre os alunos.

Nenhum comentário: