sábado, 20 de abril de 2013

CIDADES DE MÉDIO E PEQUENO PORTES TAMBÉM DEVEM PREOCUPAR-SE COM O TRANSPORTE PÚBLICO.

     

Boas práticas em mobilidade consideram planejamento e tecnologia

Tóquio tem um dos melhores sistemas de transporte do mundo, Curitiba e Bogotá são referência na América Latina.

Cidades que são modelo em mobilidade urbana já incorporaram uso de bicicletas em sua rotina
Cidades que são modelo em mobilidade urbana já incorporaram uso de bicicletas em sua rotina - Foto: Rossana Magri
Exemplos mundiais no quesito mobilidade urbana, algumas capitais mostram que articular a ampla questão do planejamento em mobilidade ao uso de tecnologias pode trazer soluções efetivas para essa área nas grandes cidades. Atenta à questão, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) organiza o evento Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, que deve acontecer ainda no fim deste semestre, e que abarca a discussão sobre formas bem sucedidas de reverter os problemas do setor.

O blog inhabitat.com listou as cinco melhores cidades em mobilidade urbana do mundo. São elas: Tóquio, no Japão; Nova York, nos Estados Unidos; Londres, na Inglaterra; Paris, na França; e Moscou, na Rússia. Segundo o blog, a capital japonesa tem um dos sistemas de transporte mais complexos do planeta, integrando ônibus, metrô, balsas, VLTs (veículos leves sobre trilhos) e BRTs (transporte rápido por ônibus). São variadas formas de transporte que somam mais de 10,6 bilhões de viagens por dia.
Em Nova York, a população pode utilizar diversas maneiras de transporte, como ônibus, trens, metrô, ciclovias, balsas e faixas exclusivas para pedestres. Já em Londres se localiza o maior e mais antigo metrô do mundo, uma vasta rede de ônibus, trens de superfície e bondes suburbanos.
A capital londrina é pioneira na criação do pedágio urbano. Desde 2003, os carros particulares precisam pagar para circular pelo centro, medida que diminuiu em 30% o número de veículos na região. O sistema público de aluguel de bicicletas foi lançado, em 2010, com quase 600 estações e mais de 8 mil bicicletas.

Em Paris, é possível encontrar uma estação de metrô a cada 500 metros. Além disso, a cidade oferece aluguel de bicicletas para o usuário completar seu trajeto. Em Moscou, o sistema ferroviário leva mais de 8 milhões de passageiros diariamente, nos seus 305 km de extensão.

Curitiba e Bogotá também são modelos
Considerada destaque em mobilidade urbana no Brasil, Curitiba busca a integração multimodal, criação participativa de um plano diretor metropolitano de transporte e mobilidade, implementação de anéis tarifários no transporte público e promoção de transporte limpo e sustentável. Foi a primeira capital, no País, a adotar o BRT como opção de transporte público.

Mas o exemplo de mobilidade na América Latina é a capital colombiana. O ex-prefeito de Bogotá, Henrique Peñalosa (1998-2002), deflagrou à época inúmeras mudanças quanto à mobilidade urbana na cidade, inspirado no modelo de Curitiba. Ele implantou o Sistema Transmilênio de transporte público, baseado na integração de ônibus tipo BRT. Com isso, teve de introduzir outras medidas, como corredores exclusivos para ônibus, uso do solo radicalmente controlado, calçadas acessíveis, rebaixamentos padronizados e passarelas democráticas, restrição de estacionamentos, construção de espaços bucólicos de convivência e valorização de praças. Além disso, integrou 420 quilômetros de ciclovias estruturadas.

São 84 quilômetros de corredores exclusivos e 633 quilômetros alimentadores distribuídos por 1.290 ônibus articulados, 518 alimentadores e 114 estações localizadas em nove zonas urbanas. Pesquisas publicadas no jornal bogotano El Espectador identificaram que um entre cinco proprietários de automóveis migrou para o Transmilênio por ser a opção mais rápida, segura e barata de ida e volta ao trabalho. Números confirmam que, em Bogotá, deixaram de circular cerca de 7 mil veículos por dia.

Pesquisadores ressaltam medidas para melhoria da área
O pesquisador da Unidade de Estudos de Transportes da Universidade de Oxford, em Londres, Caralampo Focas, explica algumas medidas implantadas em Londres que contribuíram para a mobilidade urbana. “Há a cobrança pelo uso de determinadas áreas. São 10 libras para entrar em certos locais e há multa de 120 libras para quem não respeita. Há um sistema de reconhecimento das placas que é bastante preciso. O valor é direcionado para melhorias no trânsito. Esse é o maior sistema nesse sentido já construído, considerando outros países. Ainda assim afeta apenas 1% do trânsito”. Ele diz ainda que houve diminuição comprovada de 16% de pessoas circulando de carro pelos locais e de 20% na emissão de poluentes.

O arquiteto e professor da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, Francesc X. Ventura i Teixedor, ressalta que é importante reconhecer os bons exemplos na área, mas que o Brasil tem que encontrar suas próprias soluções em seu próprio tempo. “Em alguns países, o transporte é um serviço público; em outros, o serviço público é um negócio. Gasta-se muito em medidas estruturantes, mas se deve gastar também para integrar tecnologias e tirar proveito disso. A mobilidade urbana é como o corpo humano: para funcionar bem, cada parte integrada deve cumprir seu papel”.

Marcelo Perrupato, secretário de Política de Transportes do Ministério dos Transportes, compartilha da mesma visão de Francesc quanto a repetir no Brasil os modelos europeus. “É preciso considerar que as soluções que funcionaram na Europa podem não funcionar aqui. Lá, não vivem o momento econômico e o crescimento demográfico vistos no Brasil. Então, é necessário tropicalizar essas boas práticas”, diz ele.

Parceria - O conselheiro Victor Monfort, representante da Delegação da União Europeia no Brasil, ressaltou, durante Seminário Internacional de Mobilidade Urbana, que essa é uma das áreas de cooperação entre Brasil e União Europeia. “Na União Europeia, 60% da população vivem em áreas urbanas e a mobilidade urbana é responsável pela emissão de 40% de CO2 na atmosfera. As cidades europeias têm problemas comuns ao Brasil quanto à mobilidade. Os congestionamentos custam 1% do nosso PIB anualmente, porque trazem prejuízos econômicos”, disse.

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